O desenvolvimento da excelência científica integra a componente central do trabalho da EDCTP. Neste artigo, analisamos como a EDCTP tem funcionado para assegurar que todos os indivíduos, instituições e países tenham a oportunidade de aspirar ao seu pleno potencial científico e profissional, concentrando-se especificamente nos países africanos de língua oficial portuguesa (ou PALOP*).
Perguntámos à Diretora do Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr. Maria Hermínia Cabral, sobre a estratégia da Fundação Calouste Gulbenkian para o reforço da investigação em saúde nos PALOP e a sua visão sobre o papel que os financiadores (inter)nacionais podem desempenhar.
Entrevista:
Maria Hermínia Cabral
A EDCTP está empenhada em trabalhar com parceiros com os mesmos interesses, para promover uma utilização mais ampla das oportunidades estabelecidas para a investigação em colaboração. Isto é operacionalizado através de ensaios clínicos multicêntricos e programas de formação a países que se apoiam mutuamente através das Redes Regionais de Excelência da EDCTP. Além disso, a EDCTP construiu parcerias com organizações que promovem a equidade na investigação para a saúde.
Uma dessas parcerias é com a Fundação Calouste Gulbenkian, cujo principal objectivo é melhorar a qualidade de vida através da arte, da caridade, da ciência e da educação. A Fundação dirige as suas actividades a partir da sua sede em Lisboa e das suas delegações em Paris e Londres, com o apoio de Portugal nos PALOP, entre outros. Através do seu Memorando de Entendimento, a EDCTP e a Fundação Calouste Gulbenkian expressaram o seu compromisso de apoiar conjuntamente o desenvolvimento de capacidades na África Subsariana para a realização de ensaios clínicos em seres humanos e, mais especificamente, a revisão ética e as capacidades reguladoras nos PALOP. A Fundação co-financiou bolsas de desenvolvimento de carreira, bolsas de investigação de alto nível e bolsas de estudo preparatórias EDCTP-AREF. A Fundação publicou recentemente o relatório “Mapeamento da Investigação e Financiamento das Ciências da Saúde em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe”.
O Décimo Fórum EDCTP em Maputo, Moçambique, decorreu durante a pandemia da COVID-19 e, por conseguinte, foi realizado como um encontro híbrido organizado pelo Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, de 17 a 21 de Outubro de 2021, com o tema “Equidade na investigação para a saúde”.
O Nono Fórum EDCTP que decorreu em Lisboa, Portugal, de 17-21 de Setembro de 2018, foi organizado em parceria com a Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia e a Fundação Calouste Gulbenkian. O tema do Fórum de 2018 foi dedicado à “Investigação clínica e desenvolvimento sustentável na África subsariana: o impacto das parcerias Norte-Sul”.
Para reforçar ainda mais a participação dos PALOP no seu programa, a EDCTP organizou dois dos seus Fóruns em países de língua portuguesa: Lisboa, Portugal (2018) e Maputo, Moçambique (2021).
São Tomé e Príncipe
Guiné-Bissau
Cabo Verde
Angola
Moçambique
Estudo de caso (em inglês)
FETP-CV: field epidemiology training at the University of Cabo Verde
Outra actividade que está a reforçar os sistemas de saúde dos PALOP é a formação. Cada ensaio clínico financiado pela EDCTP através do esquema de financiamento da Acção de Investigação e Inovação (RIA) inclui uma componente de formação, e a formação é fornecida através dos esquemas de subvenção da Acção de Coordenação e Apoio (CSA) e da Acção de Formação e Mobilidade (TMA). Um importante desenvolvimento recente é o início de um grande consórcio de formação em epidemiologia nos PALOP através da EDCTP e do emblemático programa da Africa CDC para formar 151 epidemiologistas e bioestatísticos em toda a África. O consórcio Master in Field Epidemiology Training for Portuguese-speaking West African Countries (FETP-CV) criou um programa de formação de mestrado na Universidade de Cabo Verde, e inscreveu 15 candidatos dos PALOP.
É importante notar que os PALOP estão representados em projectos que visam o reforço do sistema de saúde, tais como o BERC-Luso, que visa a criação de capacidade de revisão ética e de regulamentação da investigação clínica em cinco países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), e o projecto LusoAfro-BioEthics que apoia o desenvolvimento colaborativo da capacidade de revisão ética nacional em três países lusófonos (Angola, Cabo Verde e Moçambique).
Estudo de caso (em inglês)
BERC-Luso: Biomedical Ethics and Regulatory Capacity Building Partnership for Portuguese-Speaking African Countries
Nos últimos anos, tanto a participação como o número de coordenadores dos PALOP tem aumentado. No total, 41 subvenções da EDCTP têm a participação dos PALOP, e 13 dessas subvenções são lideradas por participantes dos PALOP. Enquanto Moçambique tem tido a representação mais forte ao longo dos programas EDCTP 1 e 2, outras participações dos PALOP continuam a crescer gradualmente e beneficiam cada vez mais de projectos conjuntos, onde os países com maiores capacidades ajudam a reforçar essas capacidades noutros países.
Perguntámos ao Professor Paulo Ferrinho, Director do Departamento de Saúde Pública Global do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa, Portugal) e membro do SAC da EDCTP, como é que o SAC tem contribuído para aumentar a participação dos PALOP nas actividades da EDCTP e o seu impacto actual e esperado.
Entrevista:
Prof. Paulo Ferrinho
Actualmente já são apoiadas 36 alunas de doutoramento ligadas às quatro Redes Regionais de Excelência da EDCTP, incluindo estudantes de língua portuguesa.
A agenda do Comité Consultivo Científico da EDCTP (SAC) inclui discussões sobre países em conflito, países com regulamentação inadequada da investigação, barreiras linguísticas, e a vantagem que os países bem sucedidos anteriormente têm agora.
Em 2020, a EDCTP publicou o relatório de um workshop, organizado conjuntamente com os Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), que explorou as principais causas das disparidades de género e geográficas no financiamento da EDCTP. Esta reunião consultiva e diversa apresentou várias recomendações sobre a forma de melhorar o equilíbrio geográfico e de género. Já foram tomadas medidas tangíveis na implementação destas recomendações e outras estão em curso. Exemplos destas, incluem o apoio prático a investigadores francófonos e lusófonos através de vários workshops de concessão de bolsas, e o lançamento de um convite conjunto da EDCTP e do Departamento de Saúde e Cuidados Sociais (DHSC) do Reino Unido, para apresentação de propostas sobre a abordagem das disparidades de género e diversidade na capacidade de investigação clínica nas Redes Regionais de Excelência EDCTP.
A EDCTP tem prestado uma grande contribuição para a investigação de base em saúde na África Subsariana. No entanto, uma análise do financiamento dos programas EDCTP1 e da parte inicial do EDCTP2, demonstrou uma grande disparidade entre países que respeita ao número de candidaturas e às taxas de sucesso. Consequentemente, a EDCTP tomou várias medidas para compreender e abordar as disparidades de género, regionais e linguísticas.
*Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa; PALOP
Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
O desenvolvimento da excelência científica integra a componente central do trabalho da EDCTP. Os convites à apresentação de propostas competitivas e a análise através do sistema de “peer review” são ferramentas bem estabelecidas para assegurar a excelência científica, e fundamentais para os processos da EDCTP. Contudo, os países com sistemas de investigação em saúde menos desenvolvidos lutam para competir com países com instituições com uma longa história de investigação em saúde e centros de excelência bem estabelecidos. Este efeito negativo pode ser amplificado por barreiras linguísticas. Neste artigo, analisamos como a EDCTP tem funcionado para assegurar que todos os indivíduos, instituições e países tenham a oportunidade de aspirar ao seu pleno potencial científico e profissional, concentrando-se especificamente nos países africanos de língua oficial portuguesa (ou PALOP*).
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O desenvolvimento da excelência científica integra a componente central do trabalho da EDCTP. Neste artigo, analisamos como a EDCTP tem funcionado para assegurar que todos os indivíduos, instituições e países tenham a oportunidade de aspirar ao seu pleno potencial científico e profissional, concentrando-se especificamente nos países africanos de língua oficial portuguesa (ou PALOP*).
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Advocating for PALOP involvement
During the first EDCTP programme (EDCTP1: 2004 – 2014), Dr Pascoal Mocumbi served as EDCTP High Representative. Before joining EDCTP, Dr Mocumbi was Prime Minister of Mozambique from 1994 to 2004. As the EDCTP High Representative, he has played an important role in raising the profile of EDCTP, particularly with African governments.
During his tenure as High Representative, Dr Mocumbi assisted EDCTP in building political support, particularly in Africa. He was engaged in many international meetings with high-level representatives from Africa and Europe, including a meeting with the President of the European Commission, José Manuel Barroso, and other stakeholders to discuss current and future challenges related to HIV/AIDS, tuberculosis and malaria. In 2011, he represented EDCTP at the Senior Officers of the EU-AU Meeting (SOM EU-AU) dialogue. Near the end of the first programme, he addressed the High-Level Meetings on the second EDCTP programme in Cape Town, South Africa (2012), and the Second High-Level Meeting on EDCTP2 in Dakar, Senegal (2013).
In recognition of Dr Mocumbi’s critical role in laying the foundation for EDCTP credibility with African governments, EDCTP’s highest prize is awarded biennially in his name. The Dr Pascoal Mocumbi Prize rewards an individual in recognition of his/her outstanding achievements in advancing health research and capacity development in Africa with significant impact on the wellbeing of the African population.
Dr Leonardo Santos Simão, a former Minister of Health and Minister of Foreign Affairs and Cooperation for Mozambique, is EDCTP’s High Representative for Africa. Together with Professor Marcel Tanner, EDCTP High Representative for Europe, he acts as goodwill ambassador for EDCTP in order to increase the visibility of the programme and promote partnerships with other EDCTP stakeholders.
By liaising with stakeholders in and outside of Africa, Dr Simão helps the EDCTP programme build long-term commitment and perspective. He is a strong advocate of health diplomacy in Africa: developing Africa’s capacity to get their message out: “It is not enough to just be at meetings and say something; we need to have a strategy on how to liaise with our partners so that they have a better understanding of our needs and priorities, and foster their willingness to work with us first, and then proceed to jointly act on these priorities.”
Dr Simão is liaising and working with other organisations, such as Africa Centres for Disease Control and Prevention (Africa CDC) and regional communities on the role of African governments increasing their participation in financing research through strengthening national ministries of science and technology and the creation of national science funds.
Perguntámos à Diretora do Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr. Maria Hermínia Cabral, sobre a estratégia da Fundação Calouste Gulbenkian para o reforço da investigação em saúde nos PALOP e a sua visão sobre o papel que os financiadores (inter)nacionais podem desempenhar.
Entrevista:
Maria Hermínia Cabral
A EDCTP está empenhada em trabalhar com parceiros com os mesmos interesses, para promover uma utilização mais ampla das oportunidades estabelecidas para a investigação em colaboração. Isto é operacionalizado através de ensaios clínicos multicêntricos e programas de formação a países que se apoiam mutuamente através das Redes Regionais de Excelência da EDCTP. Além disso, a EDCTP construiu parcerias com organizações que promovem a equidade na investigação para a saúde.
Uma dessas parcerias é com a Fundação Calouste Gulbenkian, cujo principal objectivo é melhorar a qualidade de vida através da arte, da caridade, da ciência e da educação. A Fundação dirige as suas actividades a partir da sua sede em Lisboa e das suas delegações em Paris e Londres, com o apoio de Portugal nos PALOP, entre outros. Através do seu Memorando de Entendimento, a EDCTP e a Fundação Calouste Gulbenkian expressaram o seu compromisso de apoiar conjuntamente o desenvolvimento de capacidades na África Subsariana para a realização de ensaios clínicos em seres humanos e, mais especificamente, a revisão ética e as capacidades reguladoras nos PALOP. A Fundação co-financiou bolsas de desenvolvimento de carreira, bolsas de investigação de alto nível e bolsas de estudo preparatórias EDCTP-AREF. A Fundação publicou recentemente o relatório “Mapeamento da Investigação e Financiamento das Ciências da Saúde em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe”.
O Décimo Fórum EDCTP em Maputo, Moçambique, decorreu durante a pandemia da COVID-19 e, por conseguinte, foi realizado como um encontro híbrido organizado pelo Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, de 17 a 21 de Outubro de 2021, com o tema “Equidade na investigação para a saúde”.
O Nono Fórum EDCTP que decorreu em Lisboa, Portugal, de 17-21 de Setembro de 2018, foi organizado em parceria com a Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia e a Fundação Calouste Gulbenkian. O tema do Fórum de 2018 foi dedicado à “Investigação clínica e desenvolvimento sustentável na África subsariana: o impacto das parcerias Norte-Sul”.
Para reforçar ainda mais a participação dos PALOP no seu programa, a EDCTP organizou dois dos seus Fóruns em países de língua portuguesa: Lisboa, Portugal (2018) e Maputo, Moçambique (2021).
São Tomé e Príncipe
Guiné-Bissau
Cabo Verde
Angola
Moçambique
Estudo de caso (em inglês)
FETP-CV: field epidemiology training at the University of Cabo Verde
Outra actividade que está a reforçar os sistemas de saúde dos PALOP é a formação. Cada ensaio clínico financiado pela EDCTP através do esquema de financiamento da Acção de Investigação e Inovação (RIA) inclui uma componente de formação, e a formação é fornecida através dos esquemas de subvenção da Acção de Coordenação e Apoio (CSA) e da Acção de Formação e Mobilidade (TMA). Um importante desenvolvimento recente é o início de um grande consórcio de formação em epidemiologia nos PALOP através da EDCTP e do emblemático programa da Africa CDC para formar 151 epidemiologistas e bioestatísticos em toda a África. O consórcio Master in Field Epidemiology Training for Portuguese-speaking West African Countries (FETP-CV) criou um programa de formação de mestrado na Universidade de Cabo Verde, e inscreveu 15 candidatos dos PALOP.
É importante notar que os PALOP estão representados em projectos que visam o reforço do sistema de saúde, tais como o BERC-Luso, que visa a criação de capacidade de revisão ética e de regulamentação da investigação clínica em cinco países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), e o projecto LusoAfro-BioEthics que apoia o desenvolvimento colaborativo da capacidade de revisão ética nacional em três países lusófonos (Angola, Cabo Verde e Moçambique).
Estudo de caso (em inglês)
BERC-Luso: Biomedical Ethics and Regulatory Capacity Building Partnership for Portuguese-Speaking African Countries
Perguntámos ao Professor Paulo Ferrinho, Director do Departamento de Saúde Pública Global do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa, Portugal) e membro do SAC da EDCTP, como é que o SAC tem contribuído para aumentar a participação dos PALOP nas actividades da EDCTP e o seu impacto actual e esperado.
A EDCTP tem prestado uma grande contribuição para a investigação de base em saúde na África Subsariana. No entanto, uma análise do financiamento dos programas EDCTP1 e da parte inicial do EDCTP2, demonstrou uma grande disparidade entre países que respeita ao número de candidaturas e às taxas de sucesso. Consequentemente, a EDCTP tomou várias medidas para compreender e abordar as disparidades de género, regionais e linguísticas.
*Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa; PALOP
Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
O desenvolvimento da excelência científica integra a componente central do trabalho da EDCTP. Os convites à apresentação de propostas competitivas e a análise através do sistema de “peer review” são ferramentas bem estabelecidas para assegurar a excelência científica, e fundamentais para os processos da EDCTP. Contudo, os países com sistemas de investigação em saúde menos desenvolvidos lutam para competir com países com instituições com uma longa história de investigação em saúde e centros de excelência bem estabelecidos. Este efeito negativo pode ser amplificado por barreiras linguísticas. Neste artigo, analisamos como a EDCTP tem funcionado para assegurar que todos os indivíduos, instituições e países tenham a oportunidade de aspirar ao seu pleno potencial científico e profissional, concentrando-se especificamente nos países africanos de língua oficial portuguesa (ou PALOP*).
Nos últimos anos, tanto a participação como o número de coordenadores dos PALOP tem aumentado. No total, 41 subvenções da EDCTP têm a participação dos PALOP, e 13 dessas subvenções são lideradas por participantes dos PALOP. Enquanto Moçambique tem tido a representação mais forte ao longo dos programas EDCTP 1 e 2, outras participações dos PALOP continuam a crescer gradualmente e beneficiam cada vez mais de projectos conjuntos, onde os países com maiores capacidades ajudam a reforçar essas capacidades noutros países.
Em 2020, a EDCTP publicou o relatório de um workshop, organizado conjuntamente com os Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), que explorou as principais causas das disparidades de género e geográficas no financiamento da EDCTP. Esta reunião consultiva e diversa apresentou várias recomendações sobre a forma de melhorar o equilíbrio geográfico e de género. Já foram tomadas medidas tangíveis na implementação destas recomendações e outras estão em curso. Exemplos destas, incluem o apoio prático a investigadores francófonos e lusófonos através de vários workshops de concessão de bolsas, e o lançamento de um convite conjunto da EDCTP e do Departamento de Saúde e Cuidados Sociais (DHSC) do Reino Unido, para apresentação de propostas sobre a abordagem das disparidades de género e diversidade na capacidade de investigação clínica nas Redes Regionais de Excelência EDCTP.