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Entrevista
Professor Paulo Ferrinho, Director do Departamento de Saúde Pública Global do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa, Portugal) e membro do Comité Científico Consultivo da EDCTP

É importante que a transição da EDCTP2 para a EDCTP3 Saúde Global não deixe ninguém para trás. Em particular, países como Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau, que estão a dar passos pequenos mas firmes para poderem vir a integrar a Assembleia Geral da EDCTP, devem ser continuar a ser apoiados nos seus esforços de crescimento.

O apoio contínuo inclui prestar particular atenção às fundações científicas emergentes e ajudá-las a reforçar a sua capacidade de coordenar o financiamento da investigação no país, não só a partir do orçamento do governo, mas também de múltiplos doadores.

A ciência deve ser alimentada desde muito cedo no sistema educativo. Acredito que mecanismos para desenvolver um interesse e uma cultura de investigação já ao nível da licenciatura durante a formação universitária acabariam por beneficiar os sistemas nacionais de saúde, pelo que também deveriam ser apoiados. Porque, afinal, investir no reforço do sistema de saúde exige invariavelmente investir nas pessoas.

Quais seriam as suas recomendações para o futuro?

Nesta fase do segundo programa EDCTP (EDCTP2), todos os PALOP estão envolvidos em actividades financiadas pela EDCTP. Alguns, como Cabo Verde, Angola e Guiné-Bissau, estão a investir no desenvolvimento de capacidades para tornar o seu envolvimento sustentável. Moçambique já tem um ecossistema com uma capacidade de investigação bem estabelecida. As universidades públicas e os hospitais académicos têm desempenhado um papel muito importante na concretização destes desenvolvimentos.

É encorajador notar que algumas universidades privadas em Angola, Cabo Verde e Moçambique estão também a desenvolver as suas capacidades de investigação. Onde falta legislação, por exemplo, em Cabo Verde, esta já está a ser desenvolvida.

O financiamento é recebido de múltiplas fontes e há uma necessidade de maior coordenação. Angola criou uma Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e prevê-se uma Fundação similar em Cabo Verde a partir de 2023. Estas Fundações irão coordenar o financiamento da investigação no país, incluindo para o sector da saúde, e estão empenhadas em alinhar parte deste financiamento com a agenda de investigação da EDCTP. Tal processo levará tempo, mas é activamente apoiado tanto pelo sector científico e do ensino superior como pelos ministérios nacionais da saúde.

Quais são as suas expectativas quanto ao impacto da participação dos PALOP nas actividades financiadas pela EDCTP?

O subsistema de investigação em saúde sobrepõe-se aos sectores da saúde e da ciência, cada um com um ministério diferente. A EDCTP tem facilitado o diálogo entre os dois sectores. O programa da EDCTP assumiu compromissos estruturais em ambos os sectores para: apoiar e/ou desenvolver a capacidade de governação (apoio às autoridades reguladoras e desenvolvimento da capacidade de revisão bioética, incluindo quadros legislativos), centros de investigação (em universidades, institutos nacionais de saúde pública e fundações de investigação), integrando-os em Redes Regionais de Excelência; promover a formação de investigadores (doutoramentos, mestrados, formação técnica e escrita de projectos; incentivar parcerias Sul-Sul e Norte-Sul; encorajar o desenvolvimento, apresentação e implementação de projectos conjuntos e apresentação de trabalhos de investigação conjunta em reuniões científicas nacionais e internacionais, incluindo o Fórum Bienal EDCTP.

Como é que o SAC da EDCTP tem contribuído para aumentar a participação dos PALOP nas bolsas/subsídios da EDCTP e para melhorar esta situação?

É impossível generalizar. Países como Cabo Verde têm tido bastante sucesso, enquanto a Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial permanecem com grandes fragilidades. Mesmo países ricos em recursos, como Angola, não conseguem atingir as suas metas para a saúde. Apesar de todos os blocos estruturantes de um sistema de saúde serem importantes para o seu reforço, o bloco com maior impacto está ligados à governança da saúde nestes países.

Quais são os principais obstáculos para os PALOP no reforço dos seus sistemas de saúde?

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Professor Paulo Ferrinho, Director of the Global Public Health Department 
at the Institute of Hygiene and Tropical Medicine (Universidade NOVA, Lisbon, Portugal) and member of the EDCTP Scientific Advisory Committee
Entrevista

É importante que a transição da EDCTP2 para a EDCTP3 Saúde Global não deixe ninguém para trás. Em particular, países como Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau, que estão a dar passos pequenos mas firmes para poderem vir a integrar a Assembleia Geral da EDCTP, devem ser continuar a ser apoiados nos seus esforços de crescimento.

O apoio contínuo inclui prestar particular atenção às fundações científicas emergentes e ajudá-las a reforçar a sua capacidade de coordenar o financiamento da investigação no país, não só a partir do orçamento do governo, mas também de múltiplos doadores.

A ciência deve ser alimentada desde muito cedo no sistema educativo. Acredito que mecanismos para desenvolver um interesse e uma cultura de investigação já ao nível da licenciatura durante a formação universitária acabariam por beneficiar os sistemas nacionais de saúde, pelo que também deveriam ser apoiados. Porque, afinal, investir no reforço do sistema de saúde exige invariavelmente investir nas pessoas.

Quais seriam as suas recomendações para o futuro?

Nesta fase do segundo programa EDCTP (EDCTP2), todos os PALOP estão envolvidos em actividades financiadas pela EDCTP. Alguns, como Cabo Verde, Angola e Guiné-Bissau, estão a investir no desenvolvimento de capacidades para tornar o seu envolvimento sustentável. Moçambique já tem um ecossistema com uma capacidade de investigação bem estabelecida. As universidades públicas e os hospitais académicos têm desempenhado um papel muito importante na concretização destes desenvolvimentos.

É encorajador notar que algumas universidades privadas em Angola, Cabo Verde e Moçambique estão também a desenvolver as suas capacidades de investigação. Onde falta legislação, por exemplo, em Cabo Verde, esta já está a ser desenvolvida.

O financiamento é recebido de múltiplas fontes e há uma necessidade de maior coordenação. Angola criou uma Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e prevê-se uma Fundação similar em Cabo Verde a partir de 2023. Estas Fundações irão coordenar o financiamento da investigação no país, incluindo para o sector da saúde, e estão empenhadas em alinhar parte deste financiamento com a agenda de investigação da EDCTP. Tal processo levará tempo, mas é activamente apoiado tanto pelo sector científico e do ensino superior como pelos ministérios nacionais da saúde.

Quais são as suas expectativas quanto ao impacto da participação dos PALOP nas actividades financiadas pela EDCTP?

O subsistema de investigação em saúde sobrepõe-se aos sectores da saúde e da ciência, cada um com um ministério diferente. A EDCTP tem facilitado o diálogo entre os dois sectores. O programa da EDCTP assumiu compromissos estruturais em ambos os sectores para: apoiar e/ou desenvolver a capacidade de governação (apoio às autoridades reguladoras e desenvolvimento da capacidade de revisão bioética, incluindo quadros legislativos), centros de investigação (em universidades, institutos nacionais de saúde pública e fundações de investigação), integrando-os em Redes Regionais de Excelência; promover a formação de investigadores (doutoramentos, mestrados, formação técnica e escrita de projectos; incentivar parcerias Sul-Sul e Norte-Sul; encorajar o desenvolvimento, apresentação e implementação de projectos conjuntos e apresentação de trabalhos de investigação conjunta em reuniões científicas nacionais e internacionais, incluindo o Fórum Bienal EDCTP.

Como é que o SAC da EDCTP tem contribuído para aumentar a participação dos PALOP nas bolsas/subsídios da EDCTP e para melhorar esta situação?

É impossível generalizar. Países como Cabo Verde têm tido bastante sucesso, enquanto a Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial permanecem com grandes fragilidades. Mesmo países ricos em recursos, como Angola, não conseguem atingir as suas metas para a saúde. Apesar de todos os blocos estruturantes de um sistema de saúde serem importantes para o seu reforço, o bloco com maior impacto está ligados à governança da saúde nestes países.

Quais são os principais obstáculos para os PALOP no reforço dos seus sistemas de saúde?